RACISMO ESTRUTURAL SEGREGA NEGROS NO MERCADO DE TRABALHO

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20/11/2020

   Em 2019, o salário médio de trabalhadores negros foi 45% menor do que o dos brancos, de acordo com a Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A mesma pesquisa mostra que entre as mulheres negras a situação é pior ainda. A média salarial para elas chegou a ser a 70% menor do que das mulheres brancas. E não importa o grau de escolaridade, mesmo negros com curso superior ganham menos que os brancos. De acordo com uma pesquisa do Instituto Locomotiva, o salário médio de homens não negros com ensino superior em 2019 ficou em R$ 7.033,00, enquanto o dos negros ficou em R$ 4.834,00, uma diferença de 31% a menos.

   Já as mulheres negras com formação superior receberam no ano passado salário médio de R$ 3.712,00 contra R$ 4.760,00 das mulheres brancas. Os negros também ocupam menos os cargos de diretoria. De acordo com uma pesquisa do site Vagas.com, somente 0,7% dos cargos mais altos de empresas são ocupados pelos negros, que ainda de acordo com a pesquisa, ocupam 47,6% dos trabalhos operacionais. Depois de todos esses números comprovando a enorme desigualdade, muitos devem ser perguntar: por que o negro ocupa postos precários e de menor renda no mercado de trabalho e por que o desemprego atinge mais a população negra do que a não negra?

   Para ter a resposta é preciso estudar a história e analisar as raízes do racismo no Brasil, dizem os estudiosos do tema. Ao assinar a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel, teoricamente, colocou fim à escravidão no Brasil. O que não se ensina na maioria das escolas desde então é que não houve a criação de nenhuma medida de proteção social aos escravos, que estariam em liberdade e jogados à própria sorte.

   Sem trabalho nem renda para sobreviver, as mulheres tiveram de se sujeitar a continuar servindo aos fazendeiros em serviços domésticos, por pequena remuneração, ou em troca de comida e casa para morar. Os homens foram simplesmente descartados e jogados à margem da sociedade. Vem daí o termo ‘marginalidade’, já que esses homens praticavam delitos para poder comer e garantir um mínimo de sobrevivência. E com o passar dos tempos, estigmatizados, os negros continuaram submetidos às oportunidades de trabalho mais precárias, na grande maioria, trabalhos braçais.

   Rosana Fernandes, secretária-adjunta de Combate ao Racismo da CUT, explica que a herança da escravidão ficou e hoje a população negra ainda convive com a discriminação, que se reflete diretamente no mercado de trabalho. Para comprovar que esta realidade persiste, é possível fazer o ‘teste do pescoço’, proposto pela ativista Luh de Souza e idealizado pelo professor Francisco Antero no projeto História Preta – Fatos e Fotos.  De forma lúdica, o teste propõe que as pessoas “metam o pescoço” em espaços para contar quantos negros ali estão.

  “Meta o pescoço dentro das joelheiras e conte quantos negros e negras são balconistas. Vá a escolas particulares como Objetivo, Dante Alighieri, entre outras, e espiche o pescoço nas salas de aulas para contar quantos negros há. Conte também quantos professores. Vá a hospitais como Sírio Libanês e conte nos quartos quantos pacientes são negros (...) e quantos negros médicos há”, diz trecho do artigo.

   Outras situações ainda são citadas como ‘meter o pescoço’ nas cadeias, orfanatos, casas de correção para menores e contar quantos são brancos, e “espichar o pescoço numa reunião dos partidos PSDB e DEM, como exemplo, e contar quantos políticos são negros desde a fundação”. “A realidade comprova que os negros ocupam, de fato, postos de trabalho sem proteção social, com menores valores salariais, sem direitos, empregos em que a opressão e assédio moral e sexual estão representes”, diz Rosana. Ela afirma também que os negros são os primeiros a perder o emprego em tempos de crise econômica, em especial as mulheres negras.

Não pode ser normal - Para Rosana Fernandes, o racismo estrutural e velado no Brasil submete a sociedade a uma naturalização das condições desiguais para os negros. “As pessoas acham que é tudo normal, que na sociedade é natural discriminar pela cor da pele, que é natural o negro receber menos e que os trabalhadores negros estejam em postos mais precarizados”, ela diz.

Luta diária e constante de todos - Enfrentar o racismo não pode ser uma luta somente da população negra, diz a dirigente. “Tem que ser também daquelas pessoas que não são negras, dos brancos, para que, de fato, a gente mude a sociedade. E para isso, tem que mudar as estruturas, alterar a ideia sobre racismo e só assim construiremos sociedade igualitária, em que todos sejam respeitados sem que levem em consideração se é mais ou menos capacitado pela cor da pele”, ela pontua.
Fonte: CUT