Salário mínimo a R$ 1.147, sem ganho real há três anos, segue perdendo da cesta básica

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22/04/2021


Com base no INPC, reajuste será de apenas 4,3%, muito aquém da inflação dos alimentos que impacta mais fortemente as famílias que recebem o mínimo
Por Redação RBA

Roberto Parizotti/Fotos Públicas
 
Dieese alerta que redução da massa salarial deve representar mais um entreva para a retomada do desenvolvimento econômico

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro propôs ao Congresso Nacional que o salário mínimo permaneça pelo terceiro ano consecutivo sem aumento real. O governo enviou nesta quinta-feira (14) proposta de R$ 1.147, como parte do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2022. Com R$ 47 de aumento sobre o valor atual – R$ 1.100 –, o reajuste segue previsão de 4,3% do INPC para este ano. De acordo com o supervisor do Dieese em São Paulo, Vitor Pagani, o valor fixado para o ano que vem não repõe sequer R$ 2 perdidos no ano passado, quando a inflação acabou fechando além da previsão estimada estabelecida no reajuste.
“Há um abismo muito grande entre o que está sendo proposto pelo governo e o que seria necessário para atender as necessidades básicas dos trabalhadores e suas famílias”, afirmou Pagani, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (16). Além disso, ele chama a atenção para o impacto maior da inflação dos alimentos para as famílias que ganham um salário mínimo. Em São Paulo, nos últimos 12 meses, a cesta básica de alimentos registrou alta de 13,86%, quase três vezes o índice oficial.
No mês passado, segundo o Dieese, o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em média, 53,71% do salário mínimo líquido para comprar os alimentos básicos. É a pior proporção em 15 anos. Diante disso, em março, o Diesse calculou em R$ 5.315,74 o salário mínimo necessário para uma família formada por dois adultos e duas crianças.
Trava para o crescimento
Além de não suprir as necessidades básicas, o congelamento do salário mínimo também compromete a retomada do crescimento econômico, segundo Pagani. Portanto, sem ganho real, há uma depreciação do poder de compra da população, o que impacta em retração do mercado interno. Ele lembrou que o consumo das famílias responde, atualmente, por cerca de dois terços do PIB.
São cerca de 50 milhões de pessoas que têm a remuneração referenciada pelo salário mínimo, incluindo empregados, aposentados e pensionistas. Também os trabalhadores por conta própria utilizam o valor do mínimo como referência. Além disso, também acaba influenciando na correção dos pisos salariais das categorias profissionais.
Anteriormente, entre 2004 e 2019, a política de valorização do salário mínimo resultou em reajuste acumulado de 283,85%. A inflação nesse período foi de 120,27%. Negociada entre as centrais sindicais e o governo Luiz Inácio Lula da Silva, a fórmula de reajuste previa um mecanismo de reajuste que considerava as perdas inflacionárias, pelo INPC, além da média do crescimento do PIB nos dois anos anteriores.